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O que é o desconto hiperbólico?
A tendência é a pessoa preferir a gratificação imediata a esperar pelo ganho futuro – ainda que o resultado deste seja maior que aquele que pode ser obtido no momento presente.
Um experimento clássico que demonstra esse comportamento é o Teste do Marshmallow. Esse experimento consiste em deixar um marshmallow ao alcance de uma criança, junto a uma promessa.
Se, durante determinado período, a criança conseguir se controlar e não comer o marshmallow, ela ganhará um segundo doce. Nesse caso, é possível notar que, mesmo sabendo que há a chance de ter o dobro de marshmallow, muitas crianças optam por comê-lo imediatamente.
O nome do fenômeno está relacionado à taxa de desconto das recompensas futuras que as pessoas aplicam. Essa taxa tende a diminuir conforme o tempo aumenta, criando uma função exponencial ou hiperbólica. Esse comportamento foi nomeado pelo psicólogo Richard Herrnstein.
Como ele se apresenta nos investimentos?
Primeiramente, a capacidade de investir pode se tornar menor por causa da priorização das recompensas imediatas.
Nesse caso, em vez de economizar, o investidor pode fazer compras por impulso, por exemplo. Como consequência, há menos recursos disponíveis para investir nas alternativas do mercado financeiro.
Além disso, o investidor pode ter mais dificuldade para construir e adotar uma estratégia de longo prazo. Logo, a incidência desse comportamento tende a diminuir o potencial de resultado dos investimentos, já que eles podem ficar mais limitados ao curto e médio prazo.
Uma forma de compreender melhor esse tipo de viés comportamental é usar uma situação hipotética. Pense que um determinado investimento de renda fixa oferece 10% de retorno em um ano. Então, se o investidor aplicar R$ 10 mil, poderá receber R$ 11 mil após 12 meses.
Porém, por causa dos juros compostos, o retorno se torna ainda maior nos anos seguintes. Em 2 anos, o valor recebido seria de R$ 12,1 mil.
Desconsiderando outros elementos para tomar essa decisão – como os impostos ou taxas operacionais –, seria mais interessante esperar 2 anos, já que o retorno seria maior do que no investimento por apenas 1 ano.
Porém, os investidores que são orientados pelo desconto hiperbólico provavelmente escolherão resgatar o investimento após o primeiro ano.
Ao comprar em um forte (e injustificado) movimento de alta, a tendência é que a valorização do investimento seja reduzida ou nem exista. Logo, os riscos de ter resultados baixos ou negativos é maior.
Além disso, vender os investimentos em um momento de queda pode gerar perdas que seriam evitáveis. Quando a Bolsa de Valores cai, o investidor só terá perdas se realizar o prejuízo – ou seja, se vender os papéis.
Já se os fundamentos indicarem que o ativo pode se recuperar e o investidor for capaz de esperar, pode não haver prejuízo pela venda das ações no futuro. Ao contrário, a queda generalizada do mercado pode trazer oportunidades de comprar ações abaixo do que valem – aumentando o potencial de ganhos.
Portanto, ao deixar-se levar pelo efeito manada, seu cliente poderá experimentar, com maior intensidade, os resultados negativos na rentabilidade da carteira. Por sua vez, o desempenho do portfólio poderá ser menor ou mesmo se tornar negativo devido às decisões tomadas com base na emoção.
Quais são os riscos desse viés para o investidor?
Foco excessivo no curto e no médio prazo
Como você viu, sob o efeito desse viés, o investidor pode se mostrar mais disposto a investir com foco no curto e no médio prazo. Afinal, a expectativa é receber o retorno visando a gratificação imediata ou mais rápida.
Não realização de aportes frequentes
Como a intenção do investidor que se baseia no desconto hiperbólico é obter recompensas imediatas, a estratégia de aportes recorrentes fica em risco. Com isso, a composição e diversificação da carteira é prejudicada. É o que acontece com quem não investe para a aposentadoria e, com o passar dos anos, não alcança o patrimônio necessário para manter o padrão de vida, por exemplo.
Maior exposição à volatilidade
Como o investidor que sofre os impactos desse viés cognitivo tende a focar no curto e médio prazo, a carteira dele apresenta exposição maior à volatilidade. Assim, o portfólio pode se tornar mais arriscado e até desalinhado com o nível de tolerância ao risco do investidor.
Como ajudar seu cliente a identificar e evitar esse viés?
É importante ajudá-lo a enxergar o poder do tempo no planejamento financeiro e nos investimentos. Nesse sentido, pode ser útil fazer simulações para mostrar como os juros compostos podem gerar retornos maiores em períodos estendidos.
Também é possível auxiliá-lo a identificar a importância de analisar os desempenhos imediatos de maneira realista, e não apenas focando na gratificação imediata. Assim, o investidor poderá entender a necessidade de focar em prazos maiores e investimentos de longo prazo.
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